Economia

Que a crise chegou a um nível difícil de suportar, que o mercado interno conhece uma retração inusitada, tudo isso é verdade. Todavia, é inequívoca a vertente internacional deste momento com o evidente recuo das trocas internacionais e a queda dos valores das commodities. A China, cuja economia deu um grande salto com sua abertura para o exterior, percebendo a redução inevitável de suas exportações, voltou-se com mais ênfase a seu próprio mercado, descobrindo na melhora de vida de sua população um novo motor de sua economia, apontando assim para a elevação dos salários e de outros componentes nessa direção. Em plena crise, com o recuo das exportações de carnes para destinos tradicionais, como a Federação Russa, a China emprestou considerável impulso à pauta de exportações da agricultura e da pecuária brasileira.

Diante da evidente involução de nosso mercado interno, devemos tanto buscar vitalizá-lo quanto apostar fichas nas exportações, a despeito de todas as dificuldades próprias da atual conjuntura. Nada nos pode desviar de buscar os nichos que assegurem a melhora da pauta de exportações brasileiras. E devemos, ao contrário do que tem sido feito, apostar em uma pauta industrial de exportações.

O objetivo deste artigo é mostrar que, mesmo na crise, há espaço razoável para o avanço das exportações brasileiras (e, assinalo, o que é esquecido pela obsessão por commodities de nossas autoridades) das exportações industriais, havendo, sobretudo, enorme espaço em países como a África do Sul, a China, a Índia e a Rússia, que junto com o Brasil formam o grupo político de cooperação Brics. Destinos para o quais a pauta industrial é esquecida, ou, no mínimo, conduzida ainda de forma muito incipiente.

Para isso o Estado brasileiro deverá fazer uma inflexão em direção às nossas pequenas e médias empresas, e deixar de apenas fazer o lobby das grandes corporações. Com esse objetivo, deve-se prover pequenas e médias empresas de apoio suficiente para enfrentar mercados em franca diversificação e mobilidade de camadas sociais. Aqui as enormes desigualdades históricas do país, desgraça enorme, podem eventualmente significar vantagens estratégicas do ponto vista do conhecimento comercial acumulado. É tempo de valer-se das linhas de crédito do Banco do Brics e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) de modo prioritário em favor de pequenas e médias indústrias em um projeto orgânico de exportações, criando de fato uma rede de apoio e de inserção de indústrias brasileiras.

Ao apoiar essas empresas – pequenas e médias –, não estaremos explorando de modo pioneiro um planeta novo, pois Alemanha e Itália já colocam em tais espaços, como a Rússia e a China, milhares de empresas pequenas e médias, ao lado de suas pujantes corporações. Apenas para tornar mais palpável a natureza dessa pauta exportadora, pode-se dizer que há espaço tanto para o passador de roupas (antigo ferro elétrico), para as próprias roupas, quanto para materiais de construção, indo do vaso sanitário trabalhado à banheira, ou a linhas diferenciadas de guardanapos, ou ao cinema, passando ainda pelas cortinas e por sua instalação, entre outras coisas.

Para alcançar, todavia, esse objetivo em exportações, é preciso que o Estado brasileiro ofereça apoio muito mais amplo do que o oferecido pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil).

Alavancar as exportações passa pela velha ladainha da pauta política nacional: educação. Educação e tecnologia.

Esse objetivo supõe, para além de prover pequenas e médias empresas de um suporte logístico nas exportações, programas integrados dentro das universidades brasileiras que esquadrinhem, com conhecimentos multidisciplinares e específicos, os territórios visados dos mercados citados, em regiões determinadas da Índia, da Rússia, da China, ou da África do Sul. Esses programas devem visar tais espaços, do ponto de vista de várias perspectivas: geografia, língua, institutos jurídicos, mercado, etc.

Sem tal apoio, sem esse conhecimento profundo, pequenas e médias empresas brasileiras jamais entrarão onde já deveriam estar, seja oferecendo produtos e serviços, seja mesmo em joint ventures. Grandes empresas podem com algum arrojo e apoio lá chegarem, mas pequenas e médias precisam efetivamente de uma retaguarda estatal que não subsiste no país. Apenas para ilustrar, cito um pequeno exemplo de como as nossas possibilidades comerciais são sacrificadas pela ausência de autênticas políticas de Estado no país. O hindi, primeiro idioma da Índia (país que passa pelo recrudescimento do nacionalismo hindu), e um dos mais falados no mundo, nem sequer é ensinado em alguma universidade no Brasil. Como uma empresa média brasileira de alimentos poderia colocar produtos para diabéticos em nicho mercadológico regional diante dessa carência de recursos culturais?

Alemanha e Itália estão com suas milhares de pequenas e médias empresas nesses países, com vendas de produtos e serviços, que vão da lavanderia ao perfume. E nós, por que não podemos, senão basicamente pelas razões aqui expostas? Não querendo cansar o leitor, podemos lembrar de um número que cresce continuamente: cerca de 5 mil empresas alemãs estão na China, e por volta de 6 mil na Rússia. E podemos dizer que aproximadamente 90% delas são médias ou pequenas.


JOSÉ VERÍSSIMO TEIXEIRA DA MATA é consultor legislativo na Câmara dos Deputados e tradutor. Traduziu e comentou, de Aristóteles, "Categorias" (3ª edição, Martin Claret, 2010) e "Da Interpretação" (1ª edição, Editora Unesp, 2013).

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